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Soneto de Aniversário: Como fui para o Seminário.


Como diria Riobaldo, personagem de Guimarães Rosa, em "Grande Sertão, Veredas":

"Deus vem vindo: ninguém não vê. Ele faz é na lei do mansinho — assim é o milagre. E Deus ataca bonito, se divertindo, se economiza." 

Sei disso. Deus usa maneiras surpreendentes de fazer acontecer as coisas. Isso se deu comigo diversas vezes. Mas, levando em conta meu aniversário hoje, gostaria de relatar um ocorrido, quando Deus realmente "jogou bonito". 

O fato é que desde 1988, com meus 17 anos, quando me uni à igreja, já ouvia conselhos da liderança de que eu deveria tentar o Ministério para servir à Causa de Deus na Igreja Adventista. Eles viam talentos em mim que eu mesmo não discernia. Mas os estudos em nossas escolas internas eram demasiadamente caros para um jovem de origem humilde como eu e devido a isso, nunca considerei que seria capaz de sustentar uma faculdade de internato às minhas próprias expensas.

Mas houve um fato que mudou todo meu pensamento. Em meu aniversário de 2000, eu estava a trabalho na cidade de Buritis/MG, e ao receber um cartão enviado pela Keu (que naquele tempo residia em São Paulo), comecei a pensar na vida, no namoro, no nosso futuro, e de repente, pintou uma tristeza daquelas que chegam sem nenhum aviso, e sem mais nem menos, de repente, tudo perdeu sua cor. E observei como eu havia perdido tempo e oportunidades e de como meus sonhos estavam ficando para traz. 

Nas palavras de Fernando Pessoa, "O poeta é um sofredor". Poetas sempre produzem quando sofrem. Escrevi então um Soneto sobre aquele momento existencial e enviei junto com uma carta apaixonada para a namorada. Isso mudou a trajetória da minha vida.

A Keu me ligou tão logo leu o Soneto. Ela disse que sentia que eu estava triste mesmo aniversariando e quis saber o por que. Questionou quais sonhos haviam ficado para traz. Então abri o peito. Disse que o sonho a que me referi era o de ir para o Seminário e cursar Teologia. Ela me incentivou. Disse que lutaríamos juntos, e se era Deus quem me chamava para essa vocação, Ele não me desampararia. Ele realizaria o sonho.

Naquele mesmo dia me decidi. Organizei-me, atualizei os estudos, fiz o vestibular, e no ano seguinte, 2001, eu já estava ingressando no Seminário Adventista latino-americano de Teologia, em Cachoeira, BA. Quando adentrei os portões, eu levava apenas o valor da matrícula (naqueles dias, R$ 330,00), mas no ano seguinte já estava casado, pagava o curso, aluguel e manutenção da casa, sustentado durante todo o período do curso (04 anos), apenas vendendo materiais audiovisuais, por ocasião das férias. 

Hoje reflito na bondade de Deus revelada naquele distante 04 de novembro, ao usar uma pequena poesia para me mostrar um caminho. 

Como o Soneto citado foi marcante, gostaria de registrá-lo e compartilhá-lo aqui. Quanto ao estilo, tem mais proximidade com aqueles escritos pelos Modernistas de segunda geração (1936-1945), sem muita preocupação com a rima perfeita nem a métrica, mas usando a forma (duas quadras e dois tercetos, com um fecho no último terceto).

Bom, testemunho dado, vamos ao Soneto.




Soneto Para Cleusa 02 – “Lira dos 28 anos”. 

 

Eu entro pelos pórticos de novembro

Trazendo a alma triste e esmorecida.

Pois dos sonhos que sonhei e já não lembro

A ausência levarei por toda a vida.


Eu entro pelos pórticos de novembro

Como se andasse por estreita avenida.

Sonhando ouvir os sinos de um dezembro

Repicando desde a infância adormecida.


Em dezembro cantarei e farei festas

Mas em novembro, ficarei só repensando

Se dos sonhos que sonhei, algum me resta.


Porém se eu perceber que em vida fui passando

Que eu possa em noite branda de seresta

Dizer que me valeu viver te amando.

Soli Deo Glória! [Claudio Soares sampaio].


http://pastorclaudiosampaio.blogspot.com
diponível para compilação, desde que a fonte seja citada

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